quarta-feira, 25 de julho de 2012

Marcos: uma encarnação de Eurípedes Barsanulfo



 
        No excelente livro A Grande Espera de autoria de Eurípedes Barsanulfo, psicografia de Corina Novelino, temos a surpreendente e empolgante história da relação dos essênios com o cristianismo, bem como, a relação de importantes trabalhadores do movimento espírita com Jesus no período em que esteve na Terra.
        O título do livro refere-se à espera dos essênios pelo Cristo, pois eles sabiam que a Grande Estrela já estava reencarnada e procuravam-no em todos os lugares. A busca pelo Cristo já prova a elevação desse grupo de iniciados, mas o livro também narra o dia a dia do povoado essênio em que Marcos ingressou, ainda adolescente, após vivenciar uma tragédia familiar. O povoado era conduzido pelo sábio Lisandro, espírito com profundo conhecimento espiritual e imensa capacidade de amar.  O livro é uma saga de espíritos sábios e corajosos que lutam para encontrar o Cristo e ter a honra de servir inspirados por Seu amor. Sem os essênios o cristianismo primitivo seria muito limitado.
        Hoje, curiosamente, muitos destes espíritos atuam diretamente no Movimento do Consolador. O período que vivemos possui semelhanças históricas com a época do Cristo no que se refere às profundas transformações sociais e espirituais que devemos vivenciar. Talvez, por isso, Lisandro – Bezerra de Menezes e Marcos – Eurípedes Barsanulfo tenham participado do início do Movimento Espírita no Brasil e, atualmente, nos dirijam da espiritualidade.
É com alegria que compartilho com vocês um trecho do livro A Grande Espera, do Instituto de Difusão Espírita – IDE. 
O diálogo entre o ancião Lisandro e o adolescente Marcos muito tem a nos ensinar.
Boa semana, amigos!

convite de Lisandro, Marcos sentava-se todas as tardes à soleira da porta modesta, após os trabalhos santificantes do dia.
Ali conversavam horas inteiras até o final da primeira vigília noturna, quando as estrelas já haviam tomado posição, no eterno cortejo de luzes pelo firmamento sem mácula.
O menino adorava as informações acerca dos companheiros de ideais do generoso ancião.
Ficara sabendo que a seita era relativamente nova, havendo surgido depois de outras facções religiosas de Judéia - a dos saduceus e a dos fariseus – cujos princípios divergiam frontalmente da fúlgida seita de Lisandro.
O ancião confiara ao pequeno discípulo que o Pai incumbira-os da tarefa do preparo dos corações para o advento da Grande Estrela. Porque as consciências carregavam-se de pecados e as mentes precisavam da iluminação pelos conhecimentos espirituais, a fim de que o Viajor Celeste encontre o caminho terreno mais arejado, os corações preparados para o entendimento da Grande Lição redentora.
Para a concretização do objetivo sublime aqueles homens vieram de outras terras, reunindo-se sob os céus de Israel, cujo solo receberia a graça de ser pisado pelo Messias. Procediam esses missionários da Vontade Divina da vários países, tais como: Pérsia, Síria, Grécia, Alexandria e outros centros avançados do saber humano, trazendo imenso cabedal de experiências científicas e filosóficas, que oferecem a quantos desejem receber a dádiva do conhecimento.
Os olhos de Marcos tornavam-se chamejantes, qual belo par de setas, que ganhassem viagem, sem saber até que ponto e distância a força penetrante do entusiasmo as conduzirá.
O menino sentia-se altamente preocupado em ouvir Lisandro. Como a doce voz do ancião lhe penetrava o íntimo!
A tarde do décimo dia de permanência de Marcos, na morada singela de Lisandro, fora-lhe particularmente inesquecível.  
Achavam-se sentados à soleira humilde e o Sol descambava no horizonte límpido, semelhando-se a gigantesca tocha às mãos de prodigioso corredor, a empreender fantástica maratona, pelos caminhos conhecidos do campo celeste. O crepúsculo propiciava temperatura ligeiramente amena.
Os dois companheiros contemplavam a descida do Astro da Vida, com sagrado respeito, sob as harmonias do silêncio. Muito tempo ficaram no recolhimento estático, como que receosos de quebrar o encantamento daquele divino instante.
Lisandro observou, em voz baixa:
- Marcos, meu filho, sentimos a grandeza indefinível do Poder Divino. Todavia, bem pouco conhecemos dessa Potência, que nos oferece tantas maravilhas...
Após ligeira pausa, o ancião concluiu:
- Teu coração conhece agora a presença do Pai Divino – Único e Eterno – e não podes duvidar da Sua Onipotência...
- Sim, amado mestre, depois que me mostrastes tantos testemunhos do Poder Superior, como duvidar d´Ele? – anuiu o menino, com olhos postos na linha do horizonte, onde o atleta miraculoso penetrava o último marco da corrida espetacular, conduzindo à meta final a tocha do triunfo...
- Agora, meu filho, torna-se imprescindível a tua entrada no terreno prático do aprendizado. Amanhã mesmo conduzir-te-ei ao nosso povoado, não longe daqui. Entrarás em contato com outros meninos de tua idade, aprendizes dos princípios vigentes em nossa seita, segundo os quais todo candidato à espera da Grande Estrela deve preparar-se para o evento sublime. Todos estudam com alegria as ciências fundamentais e penetram o mundo encantador dos sons, aprimorando a divina arte musical. Quando o Cordeiro de Deus chegar é necessário encontre os pastores, entoando belas melodias nas avenas humildes, enquanto o aprendiz dedica-se também à lavoura, aos trabalhos de tear e cerâmica. O lema daquele que aguarda a chegado do Messias nesta seita é: mente e mãos ocupadas, sob a grande voz do silêncio.  
As últimas palavras de Lisandro foram sublimadas por significativo sorriso.
Marcos indagou, ansioso:
- Ficarei lá, então? Oh, sofrerei muito se tiver de deixar-vos!
Lisandro estremeceu, mas reaprumou-se logo, observando carinhoso:
- Será o primeiro sacrifício, meu filho. Saibas que muitos outros serão exigidos de tua coragem, que se fortalecerá no devotamento à causa da Grande Espera, através do trabalho e do estudo. Todavia, amado filho, não nos assiste o direito de violentar-te a vontade. Farás o que a consciência aconselhar-te. O livre arbítrio é sagrada faculdade, doada à criatura por divina concessão...
Os olhos expressivos de Marcos brilhavam, demorando-se na primeira estrela, que surgira de inopino no céu sem nuvens. O olhar molhado semelhava-se-lhe ao oceano: refletia na superfície azulada a profunda agitação interior.
Como dizer a Lisandro que não desejava, por nada no mundo, sair-lhe do lado?
Mas sabia que o amigo não aconselhava uma coisa injusta. Tudo que falava era certo. Terrivelmente exato e necessário... Como foram suaves e bons aqueles dias de convívio com Lisandro! Certamente não teria o menino outros semelhantes nunca mais...
A essa altura das ilações silenciosas de Marcos, o ancião obtemperou, indo-lhe, mais uma vez, ao encontro dos pensamentos doloridos:
- Os teus dias, meu filho, serão sempre luminosos. Mesmo quando tiverdes de provar o cálice do sacrifício supremo. Aquele que espera o divino Enviado nos trabalhos sublimes da própria santificação, jamais terá tristezas duradouras. Estas serão passageiras como os ventos frios e esporádicos, que descem do norte, e são envolvidos pelas brisas mornas do sul.
O menino assombrou-se com a singular faculdade do ancião de penetrar-lhe os mais íntimos pensamentos, embora houvesse recebido outros atestados, em várias oportunidades.
 - Como podeis sondar-me os pensamentos mais escondidos, Mestre? – indagou Marcos emocionado.
- Teu coração é um livro aberto para o meu. Nele leio como se tivesse diante dos olhos a página querida de um livro precioso. Porque nos entendemos e nossas almas se entrelaçam em raízes muito antigas, que vitalizam a grande árvore do Amor, dentro do solo dos séculos...

(Extraído do capítulo 11 do livro A Grande Espera, IDE).





quarta-feira, 18 de julho de 2012

Jovens podem ser médiuns?



Peço licença aos amigos conhecedores do Espiritismo para bordar um assunto simples e importantíssimo, que pode causar estranheza aos novos adeptos da Doutrina: a mediunidade nos jovens.
A mediunidade exige uma conduta cristã coerente com os ensinos dos espíritos superiores, por isso, os que não conhecem a Codificação, a Revista Espírita nem a história do Espiritismo no Brasil e no mundo podem concluir que os jovens não têm condições de participar de reuniões mediúnicas nem de receber elevadas comunicações espirituais. É um engano ingênuo e perigoso, mas facilmente superado se compreendemos a Lei da reencarnação e a função educativa da faculdade mediúnica.
Um belo trecho do filme Chico Xavier, 2010, direção de Daniel Filho, representa uma experiência real em que o menino Chico, com 12 anos de idade, psicografa em sala de aula observado pela professora e pelos alunos. Obviamente, ele vivenciava a mediunidade desde criança.
Outro relato famoso é o de Ermance Dufaux, uma jovem que muito auxilia Allan Kardec na Codificação Espírita. O interessante é que o codificador, que normalmente não identifica os médiuns, faz questão de destacar a idade de Ermance, talvez prevendo que além do preconceito contra o Espiritismo teríamos que combater o preconceito contra a mediunidade dos jovens.
Conhecemos, também, jovens que vencendo o preconceito tão combatido por Kardec dão sua valiosa contribuição a espíritos desencarnados, bem como, recebem excelentes mensagens espirituais. Citamos Francisco Xavier e Ermance Dufaux por conta de serem conhecidos. Mas, uma das melhores médiuns que conheço, hoje, com mais de setenta anos, começou a participar de reuniões mediúnicas com quatorze. Parece que a mediunidade bem conduzida desde a juventude é uma excelente opção para se ter uma vida saudável e espiritualizar-se.
Um trecho eloquente sobre a mediunidade a ser vivida nas diversas idades encontra-se no Evangelho Segundo o Espiritismo em uma feliz combinação entre uma profecia anunciada no Antigo Testamento, repetida pelo Apóstolo Pedro e comentada por Kardec. É a união do profetismo do Antigo Testamento com os ensinos do Cristo e com o Consolador, por isso, negar aos jovens a oportunidade de estudar e vivenciar o fenômeno mediúnico é trair o legado da sabedoria milenar sintetizada na Doutrina dos Espíritos.
Seguem os trechos da Revista Espírita de Allan Kardec, o amigo codificador, e do Evangelho Segundo o Espiritismo. Amigos e amigas, que honremos as verdades espirituais auxiliando-nos uns aos outros a seremos melhores cristãos.
Boa semana e boas práticas mediúnicas!

Revista Espírita
HISTÓRIA DE SUA VIDA DITADA POR ELE MESMO À SENHORITA ERMANCE DUFAUX.

Falando da História de Joana D'Arc ditada por ela mesma, e da qual nos propusemos citar diversas passagens, dissemos que a senhorita Dufaux havia escrito, do mesmo modo, a História de Luís XI. Esse trabalho, um dos mais completos nesse gênero, contém documentos preciosos do ponto de vista histórico. Luís XI nele se mostra o profundo político que conhecemos; mas, além disso, nos dá a chave de vários fatos até então inexplicados. Do ponto de vista espírita, é um dos mais curiosos modelos de trabalhos de longo fôlego produzidos pelos Espíritos. A esse respeito, duas coisas são particularmente notáveis: a rapidez da execução (quinze dias bastaram para ditar a matéria de um grande volume); em segundo lugar, a lembrança, tão precisa, que um Espírito pode conservar dos acontecimentos da vida terrestre. Àqueles que duvidarem da origem desse trabalho, e honrando a memória da senhorita Dufaux, responderemos que seria preciso, com efeito, da parte de uma criança de catorze anos, uma memória bem fenomenal, e um talento de uma precocidade não menos extraordinária, para escrever, num único impulso, uma obra dessa natureza; mas, supondo que assim fosse, perguntaremos onde essa criança teria haurido as explicações inéditas da suspeitosa política de Luís XI, e se não fora mais interessante, aos seus pais, disso lhes deixar mérito. Das diversas histórias escritas por seu intermédio, a de Joana DArc foi a única publicada. Fazemos votos para que as outras cedo o sejam, e lhes predizemos um sucesso tanto maior quanto as ideias espíritas são, hoje, mais difundidas. (Revista Espírita, 1858)

CONVERSAS FAMILIARES DE ALÉM-TÚMULO.
O ASSASSINO LEMAIRE.

Condenado pelo Supremo Tribunal de Justiça Criminal, de Aisne, à pena de morte e executado em 31 de dezembro de 1857, evocado em 29 de janeiro de 1858.

1. Peço a Deus Todo-Poderoso permitir ao assassino Lemaire, executado em 31 de dezembro de 1857, vir entre nós. - Resp. Aqui estou.
(...)
3. Que sentimento experimentas diante de nós? - Resp. A vergonha.
4. Como uma jovem, doce como um cordeiro, pode servir de intermediário a um ser sanguinário como tu? - Resp. Deus o permitiu.  (Revista Espírita, 1858)

Evangelho Segundo o Espiritismo
       
  E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que Eu derramarei do meu Espírito sobre toda a carne, e profetizarão os vossos filhos, e vossas filhas, e os vossos mancebos verão visões, e os vossos anciãos sonharão sonhos. E certamente naqueles dias derramarei do meu Espírito sobre os meus servos e sobre minhas servas, e profetizarão. (ATOS, II: 17-18)
(...)
 Quis o Senhor que a luz se fizesse para todos os homens, e que a voz dos Espíritos penetrasse por toda a parte, a fim de que cada um pudesse obter a prova da imortalidade. É com esse objetivo que os Espíritos se manifestam hoje por toda a Terra, e que a mediunidade revelando-se entre as pessoas de todas as idades e de todas as condições, entre homens e mulheres, crianças e velhos, constitui um sinal que os tempos chegaram. Para conhecer as coisas do mundo visível, descobrir os segredos da natureza material, Deus concedeu aos homens a vista física, os sentidos corporais e os instrumentos especiais.

(...)
 O médium que não quer perder a assistência dos Bons Espíritos deve trabalhar pela sua própria melhoria. O que deseja que a sua faculdade se engrandeça e desenvolva, deve engrandecer-se moralmente abstendo-se de tudo o que possa desviá-la da sua finalidade providencial. Se os Bons Espíritos às vezes se servem de instrumentos imperfeitos, é para bem aconselhá-los e procurar levá-los ao bem; mas se encontram corações endurecidos, e se os seus conselhos não são OUVIDOS retiram-se, e os maus têm então o campo livre.  (ESE, Cap. XXVIII) 

Jovens podem ser médiuns? 
Devem.

terça-feira, 10 de julho de 2012

As consequências do medo em nossas vidas III


Amigas e amigos,

          Concluiremos essa semana nossas reflexões sobre o medo com três textos: a Parábola dos Talentos comentada por Emmanuel e um texto Revista Espírita. Desejamos que as reflexões sobre o medo tenha nos ajudado a entender a diferença entre o medo disfarçado de prudência que nos paralisa e o medo conduzido de uma forma saudável que nos auxilia a crescer espiritualmente de forma dedicada e ordenada. Certamente voltaremos a esse tema, pois o medo da mediunidade-cristã tem se ampliado em nosso movimento e refletir sobre o assunto é uma forma de contribuirmos para uma vivência mediúnica mais coerente com os propósitos do Consolador.  
          Boa semana e boas reflexões!




Não temais
(A expressão - não temais - é encontrada mais de trezentas vezes no Evangelho)


PARÁBOLA DOS TALENTOS

Um homem que ia ausentar-se para longe, chamou os seus servos e lhes entregou os seus bens. E deu a um cinco talentos, e a outros dois, e a outro deu um, a cada um segundo a sua capacidade, e partiu logo.
O que recebera cinco talentos foi negociar e ganhou outros cinco. Da mesma forma o que recebera dois, ganhou outros dois. Mas o que havia recebido um, indo-se com ele, cavou na terra, e escondeu ali o dinheiro de seu senhor. E passando muito tempo, veio o senhor daqueles servos, e chamou-os a contas. E chegando-se a ele, o que havia recebido os cinco talentos, apresentou-lhe outros cinco talentos, dizendo: Senhor, tu me entregaste cinco talentos; eis aqui tens outros cinco mais que lucrei. Seu senhor lhe disse: Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel nas coisas pequenas, dar-te-ei a intendência das grandes; entra no gozo do teu senhor.        Da mesma forma apresentou-se também o que havia recebido dois talentos, e disse: Senhor, tu me entregaste dois talentos, e eis aqui tens outros dois que ganhei com eles. Seu senhor lhe disse: Bem está, servo bom e fiel; já que fostes fiel nas coisas pequenas, dar-te-ei a intendência das grandes; entra no gozo de teu senhor.
E chegando também o que havia recebido um talento, disse: Senhor sei que és homem muito exigente e temendo escondi o teu talento na terra; eis aqui tens o que é teu. E respondendo o seu senhor, lhe disse: Servo mau e preguiçoso sabia que sou muito exigente, devias, portanto, dar o meu dinheiro aos banqueiros, e vindo eu, teria recebido certamente com juro o que era meu. Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem dez talentos. Porque a todo o que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; e ao que não tem, tirar-se-lhe-á até o que parece que tem. E ao servo inútil, lançai-o nas trevas exteriores: ali haverá choro e ranger de dentes. (Mateus, XXV: 14-30 com adaptações que não alteram o sentido).

     
TENDO  MEDO
Emmanuel
"E, tendo, medo, escondi na Terra o teu talento..."
Mateus XXV: 25.
Na parábola dos talentos, o servo negligente atribui ao medo a causa do insucesso em que se infelicita.
Recebera mais reduzidas possibilidades de ganho.
Contara apenas com um talento e temera lutar para valorizá-lo.
Quanto aconteceu ao servidor invigilante da narrativa evangélica!
Há muitas pessoas que se acusam pobres de recursos para transitar no mundo como desejariam.
E recolhem-se à ociosidade, alegando medo da ação.

Medo de trabalhar.
Medo de servir.
Medo de fazer amigos.
Medo de desapontar.
Medo de sofrer.
Medo de incompreensão.
Medo da alegria.
Medo da dor.

E alcançam o fim do corpo, como sensitivas humanas, sem o mínimo esforço para enriquecer a existência.
Na vida agarram-se ao medo da morte.
Na morte, confessam o medo da vida.
E a pretexto de serem menos favorecidos pela natureza, transformam-se gradativamente, em campeões da inutilidade e da preguiça.
Se recebeste, pois mais rude tarefa no mundo, não te atemorizes à frente dos outros e faze dela o teu caminho de progresso e renovação. Por mais sombria seja a estrada a que foste conduzido pelas circunstâncias enriquece-a com a luz do teu esforço próprio no bem, porque o medo não serviu como justificativa aceitável no acerto de contas entre o servo e o Senhor.
 Livro Fonte Viva.  Pelo Espírito Emmanuel. Psicografia Francisco C. Xavier


          Como então transformar nosso medo em medo saudável? Há uma resposta: confiar sempre em Deus, Ele que nunca nos desampara; saber que temos uma função importante no universo e mantermo-nos atentos aos chamados do Cristo em relação aos nossos compromissos reencarnatórios. Estabeleçamos um compromisso íntimo com Jesus e busquemos o apoio necessário nos amigos – encarnados e desencarnados – para desempenhar nossos trabalhos, pois todos os trabalhos são importantes. 
         Yvonne do Amaral Pereira deu-nos um exemplo magnífico ao psicografar e analisar o livro Memórias de um Suicida, considerado por Chico Xavier a obra que melhor retrata as regiões espirituais inferiores. Recebeu o livro aos 26 anos e o analisou por 30 anos, quando em 1956 foi publicado pela FEB. E se ela tivesse medo de psicografar? E se ela, antes de analisar com critério, achasse que era vítima de uma mistificação? Agradeçamos a Deus que Yvonne soube cultivar o medo saudável da prudência e da ordem e não o medo que leva a negação e a fuga em nome da disciplina aparente.
    Yvonne, estudiosa de Kardec, conhecia o texto O Mal do Medo, que apresentamos em seguida.


O mal do medo
Revista Espírita, outubro de 1858.
Problema fisiológico dirigido ao Espírito de São Luís, na sessão da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, de 14 de setembro de 1858.

Leu-se no Moniteur de 26 de novembro de 1857:
          "Comunicam-nos o fato seguinte, que vem confirmar as observações já feitas sobre a influência do medo.
          "O senhor doutor F... entrou ontem em sua casa depois de fazer algumas visitas aos seus clientes. No seu percurso lhe haviam entregue, como amostra, uma garrafa de excelente rum, autenticamente vindo da Jamaica. O doutor esqueceu na viatura a preciosa garrafa.
          Mas, algumas horas mais tarde, lembrou-se desse esquecimento e procurou a restituição, onde declarou ao chefe da estação que deixou em um de seus cupês uma garrafa de um veneno muito violento, e o exorta a prevenir os cocheiros para darem a maior atenção em não fazerem uso desse líquido mortal.
"O doutor F... entrara apenas em seu apartamento, quando vieram preveni-lo, a toda pressa, que três cocheiros da estação vizinha sofriam horríveis dores nas entranhas. Teve que se esforçar muito para tranquilizá-los e persuadi-los de que haviam bebido excelente rum, e que sua indelicadeza não poderia ter consequências mais graves além de uma suspensão, infligida imediatamente aos culpados."
          1. - São Luís poderia nos dar uma explicação fisiológica dessa transformação das propriedades de uma substância inofensiva? Sabemos que, pela ação magnética, essa transformação pode ocorrer; mas no fato relatado acima, não houve emissão de fluido magnético; só a imaginação atuou e não a vontade.
        R. - Vosso raciocínio é muito justo com respeito à imaginação. Mas os Espíritos malignos que levaram esses homens a cometerem esse ato de indelicadeza, fizeram passar no sangue, na matéria, um calafrio de medo que poderíeis chamar calafrio magnético, o qual estende os nervos e causa um frio em certas regiões do corpo. Ora, sabeis que todo frio nas regiões abdominais pode produzir eólicas. É, pois, um meio de punição que, ao mesmo tempo, leva os Espíritos que fizeram cometer o furto, a rirem à custa daqueles que fizeram pecar. Mas, em todos os casos, não se segue a morte: não há senão uma lição para os culpados e prazer para os Espíritos levianos. Também se apressam em recomeçar todas as vezes que a ocasião se lhes apresente; procuram-na mesmo para sua satisfação. Podemos evitar isso (falo por vós), em nos elevando para Deus por pensamentos menos materiais do que aqueles que ocupam o espírito desses homens. Os Espíritos malignos gostam de rir; mantendo-vos em guarda: tal que crê dizer uma coisa agradável diante das pessoas que o cercam, aquele que diverte uma sociedade por seus gracejos ou seus atos, se engana frequentemente, e mesmo muito frequentemente, quando crê que tudo isso vem de si. Os Espíritos levianos que o cercam se identificam com ele mesmo e, frequentemente, alternativamente o enganam sobre seus próprios pensamentos, assim como aqueles que o escutam. Credes, nesse caso, ter pela frente um homem de espírito, ao passo que, com mais frequência, não é senão um ignorante.
Descei em vós mesmos, e julgareis as minhas palavras. Os Espíritos superiores não são, por isso, inimigos da alegria; algumas vezes gostam de rir também para vos ser mais agradáveis; mas cada coisa em seu tempo.
            Nota. Dizendo que no fato reportado não havia emissão de fluido magnético talvez estivéssemos inteiramente na verdade. Arriscaremos aqui uma suposição. Sabe-se, como o dissemos, qual transformação das propriedades da matéria pode-se operar pela ação do fluido magnético dirigido pelo pensamento. Ora, não se poderia admitir que, pelo pensamento do médico que quisesse fazer crer na existência de um tóxico, e dar aos gatunos as angústias do envenenamento, ocorrera, embora à distância, uma espécie de magnetização do líquido que teria adquirido novas propriedades, cuja ação encontrar-se-ia corroborada pelo estado moral dos indivíduos, tornados mais impressionáveis pelo medo. Essa teoria não destruiria a de São Luís quanto à intervenção em semelhante circunstância; sabemos que os Espíritos agem fisicamente por meios físicos; podem, pois, se servirem, para cumprirem seus desígnios, daqueles que provocam, ou que nós mesmos lhes fornecemos com o nosso desconhecimento.”

             Peço a atenção ao amigo leitor para o método de Kardec. Após analisar uma notícia jornalística, debate suas análises ao espírito São Luís. Em uma linguagem atual, diríamos que ele estava problematizando e vivenciando a convergência e a solução doutrinária como sugerimos em nossa obra Reflexões Educacionais I e II.
 


Onde há o medo, perdemos o caminho do nosso espírito.
Gandhi.



segunda-feira, 2 de julho de 2012

As consequências do medo em nossas vidas II


Houdon, Jean Antoine (French, 1741-1828). O Inverno.

Refletimos, na postagem anterior, sobre a importância de lidar com o medo de uma forma saudável, positiva. Nesta, desenvolvemos outros aspectos do tema.  
Boa semana e boa sorte!

     Não temamos amigos, confiemos sempre em Deus, que nunca nos desampara, que nunca percamos a fé e a esperança no amor do Cristo. Dificuldades temos nós todos, vocês que estão no corpo com as suas e nós, deste lado, com as nossas. Mas que possamos perceber que elas não passam de degraus que nos ajudam a subir, a evoluir em direção ao nosso Pai celestial.
    Todos os trabalhos são importantes, cada um de nós tem sua função neste imenso universo de Deus. Não nos afobemos, não podemos deixar que o desespero e a ansiedade tomem conta de nossas mentes. Deus tem para cada um de nós um plano muito maior e que vai muito além do nosso conhecimento.
Ele só pede uma coisa, que confiemos nele e em sua misericórdia, tudo nos será dado no momento oportuno. Todos serão chamados, aliás, já estão sendo chamados para as atividades na seara do Cristo, basta que calemos por um momento os nossos pensamentos, e escutemos a voz doce de Jesus que amorosamente nos conduz ao seu seio de luz.
     Fornecendo–nos as ferramentas necessárias para que possamos contribuir em sua obra, para que possamos ajudá-lo a iluminar o coração daqueles que sofrem males de toda sorte, neste plano e no nosso, mas para isso é necessário que tenhamos nosso coração aberto para as instruções do Mestre.
     Que cada um de nós possa senti-lo em cada momento de nossos dias e noites, para que esqueçamos nossas vicissitudes e deixemos desabrochar nossas virtudes, para que nos esforcemos em nos iluminar primeiro para que essa luz se espalhe sobre os que necessitam dela, e não fique presa em nossas mãos. Que possamos estar sempre atentos e vigilantes, sempre dispostos, a servir o Mestre com dedicação e amor, para que com a nossa ajuda a esse sol maravilhoso que é Jesus possa iluminar a nós todos cada vez mais.
     Obrigado,
     Do amigo do grupo Marcos.”
Psicografia. Jovem médium do grupo Marcos.

           Cada um de nós está nos planos de Deus. O Pai se preocupa, pessoalmente, com cada um de nós e tem um planejamento específico para que alcancemos a felicidade. É o que ensina a questão 963 de O Livros dos Espíritos.

“963. Deus se ocupa pessoalmente de cada homem? Não é ele demasiadamente grande e nós muito pequenos, para que cada indivíduo em particular tenha aos seus olhos alguma importância?

– Deus se ocupa de todos os seres que criou, por menores que sejam; nada é demasiado pequeno para a sua bondade.

             O medo quando aceito como sentimento natural e utilizado como estímulo a prudência e a ordem cumpre sua função na obra de Deus. É preciso ter cuidado com o medo disfarçado, que não é admitido, o inconsciente. Quando o medo se disfarça de autoritarismo e de seriedade de fachada tem consequências negativas, esse medo fecha nosso coração as inspirações de Jesus e dos espíritos superiores. Quantos médiuns temem psicografar? Quantos não recebem as mensagens espirituais com medo da crítica autoritária e anticristã? São centenas. Se agirmos guiados pelo medo saudável que nos leva a ordem e prudência, receberemos as mensagens e as submeteremos a amigos lúcidos e equilibrados. Teremos a nosso favor o tempo para analisá-las, compará-las com outras mensagens de diferentes médiuns e chegaremos a uma avaliação equilibrada.
Analisemos o relato de André Luiz, que na década de 1940, alertava os médiuns dessa ameaça tão sutil e destrutiva que é o medo mal conduzido.

IX - Ouvindo impressões

Ao nosso lado, outro grupo de senhoras conversava animadamente:
— Afinal, Ernestina — indagava uma delas mais jovem — qual foi a causa do seu desastre?
— Apenas o medo, minha amiga — explicou-se a interpelada —, tive medo de tudo e de todos. Foi o meu grande mal.
Mas, como tudo isto impressiona! Você foi muitíssimo preparada.
Recordo-me ainda das nossas lições em conjunto. As instrutoras do Esclarecimento confiavam extraordinariamente no seu concurso. Seu aproveitamento era um padrão para nós outras.
— Sim, minha querida Lesta, suas reminiscências fazem-me sentir, com mais clareza, a extensão da minha bancarrota pessoal. Entretanto, não devo fugir à realidade. Fui a culpada de tudo. Preparei-me o bastante para resgatar antigos débitos e efetuar edificações novas; contudo, não vigiei como se impunha. O chamamento ao serviço ressoou no tempo próprio, orientando-me o raciocínio a melhores esclarecimentos; nossos instrutores me proporcionavam os mais santos incentivos, mas desconfiei dos homens, dos desencarnados e até de mim mesma. Nos estudiosos do plano físico, enxergava pessoas de má fé; nos irmãos invisíveis presumia encontrar apenas galhofeiros fantasiados de orientadores, e, em mim mesma, receava as tendências nocivas. Muitos amigos tinham-me em conta de virtuosa, pelo rigorismo das minhas exigências; todavia, no fundo, eu não passava de enferma voluntária, carregada de aflições inúteis.
— Foi uma grande infantilidade da sua parte — retrucou a outra —, você olvidou que, na esfera carnal, o maior interesse da alma é a realização de algo útil para o bem de todos, com vistas ao Infinito e à Eternidade. Nesse mister, é indispensável contar com o assédio de todos os elementos contrários.
Ironias da ignorância, ataques da insensatez, sugestões inferiores da nossa própria animalidade surgirão, com certeza, no caminho de todo trabalhador fiel.
São circunstâncias lógicas e fatais do serviço, porque não vamos ao mundo psíquico para descanso injustificável, mas para lutar pela nossa melhoria, a despeito de todo impedimento fortuito.
— Compreendo, agora — disse a outra —; todavia, o receio das mistificações prejudicou minha bela oportunidade.
— Minha amiga — tornou a interlocutora — é tarde para lamentar.
Tanto tememos as mistificações, que acabamos por mistificar os serviços do Cristo.

Extraído do livro Os Mensageiros. Psicografia Francisco Cândido Xavier, espírito André  Luiz. Edição FEB